quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Análise [6] - Chaos;Head - Como um Otaku Desiludido Salva o Mundo com Desilusões

Chaos;Head foi simplesmente a base para Steins;Gate, então você deve ter idéia de onde isso vai dar.
Se você leu o meu resumo sobre visual novels, você sabe que a Nitroplus faz visual novels fudidas e muito bem feitas, seja no roteiro ou na arte dos cenários e CGs e na sua trilha sonora. Basicamente, a 5pb tinha uma idéia genial de visual novel para fazer, mas para que essa tivesse a verba necessária para sair algo bem feito e que pegasse a atenção dos consumidores, ela decidiu fazer uma parceria com a Nitro+ no que viria a ser a série de "Aventuras Científicas", histórias que misturam aspectos, fenômenos e relatos reais para moldar uma história fictícia, mas ainda bem fiél aos princípios da vida real (no sentido de não ter coisas escrotas como "pular de um prédio muito alto e sobreviver" ou "tomar um monte de soco e ainda conseguir virar o jogo" e coisas assim). Mesmo se o jogo introduzir algo que aparenta ser "marmelada", praticamente tudo que acontece tem um motivo e tem explicação, implícita ou não, o que faz o jogo te sugar para o seu universo, não apenas no sentido de entender o que o personagem sente e em seu medo, mas sim no sentido de viver o que o personagem passa, dando a impressão que tudo que acontece em torno do personagem principal está acontecendo com você, e que você também poderia desenvolver o mesmo grau de insanidade do personagem nestes momentos.

Chaos;Head foi um jogo lançado em 2008, originalmente para PC, mas que logo depois foram lançados versões para Xbox, PSP, PS3 e até mesmo para Android. Sua tradução foi dada por parte da TLWiki, grupo independente que já traduziu (e ainda traduz) várias visual novels para o inglês, dentre elas, Moon., Symphonic Rain, Remember11, G-Senjou no Maou e uma renca de outros jogos da Nitroplus, que não foi por menos que alguns tradutores que participaram desses projetos agora trabalha para a Jast USA, que está traduzindo jogos dela (e de outras empresas também) comercialmente.

Bom, vamos à análise agora!

História e Rotas
Tudo começa  com um começo super misterioso, indo pra um ritmo mais devagar, mas evoluindo bem rápido nos próximos capítulos
Depois dos primeiros minutos épicos e apocalípso apocalípticos, você encarna um estudante de segundo ano do colegial do colégio Suimei, chamado Nishijou Takumi, um hikikomori (pessoa que fica enclausurado dentro de casa na maioria do tempo, raramente tendo amigos e que se dá muito mal ao tentar conversar com outras pessoas) otaku que vive jogando um MMORPG e comprando figures de sua série de anime favorita. Ele raramente vai à escola, indo até o ponto de montar um cronograma de presença mínima, onde ele vai o mínimo de dias possíveis para a escola, e tem apenas uns poucos amigos e uma irmã mais nova, que apesar de muito alegre e enérgica, não consegue se aproximar tanto de seu irmão mais velho.

Um dia, um amigo virtual dele chamado Shogun mostra algumas imagens para o Takumi olhar, e quando ele abre o link dessas imagens, revela-se um homicídio grotesco, com um homem cruxificado em um beco à noite. Assustado, Takumi tenta com todas as suas forças pensar que fora apenas uma brincadeira de mal gosto, mas após sair um dia para fazer compras, ele acaba por encontrar a mesma cena que Shogun havia tirado foto, mas desta vez quando o crime havia sido cometido recentemente por uma garota de cabelo rosa, que coincidentemente estuda na mesma escola que Takumi, além de mais pra frente ser revelado que ela era amiga de longa data dele.

A partir daí, esses incidentes são denominados de "New-Gen", onde pessoas morrem das maneiras mais insanas e cruéis possíveis. Ao passo que Takumi tenta não se abalar com os acontecimentos e tentar viver a sua vida como ele costumava viver, mal ele sabe que cada ato que ele faz e cada pessoa que ele conhece a partir daí o puxará para uma conspiração que ele sequer imaginaria e que vai muito além de um assassino em série sedento por sangue. Pra piorar tudo isso, Takumi passa a ter cada vez mais desilusões daí em diante, fazendo-o perder o senso de realidade e ter mais dificuldades em determinar o que é real ou não, ou o que aconteceu de verdade ou o que foi um simples produto de sua loucura.

O jogo é dividido em 10 capítulos, tendo duração de cerca de 2 horas e meia cada um. O jogo é incrivelmente linear, mesmo com seu inovador sistema de desilusões, e apenas em duas cenas que o jogo pode mudar de rumo para um Game Over ou para decidir se o seu final será bom ou "mais ou menos". Até tem um Bad End no jogo, mas para isso você terá que zerar o jogo uma vez e fazer uma sequência de escolhas bem específica para abrí-lo, e ainda assim não vale muito a pena vê-lo (a menos que você goste de um final totalmente desesperançoso e de alguns assassinatos extras que são revelados nessa rota), por isso que o jogo é quase que uma "kinetic novel com bônus!", e apesar de termos alguns momentos engraçados ou simplesmente non-sense no jogo, o grande foco dele é na sua complexa história e na evolução de seus personagens, então se você espera H-Scenes, esquece. Nem a versão 18+ tem isso aí (a versão pra Xbox 360 tem tal indicação... acredite se quiser).

Traços, Trilha Sonora e Animação
A arte do jogo é simplesmente sensacional. Pode não ser nada foto-realista, mas é muito show.
 Os traços do jogo, como disse, são muito bem feitos. Há um ótimo contraste das cores usadas nas personagens com os tons usados para o resto do cenário e até mesmo em efeitos especiais. O trabalho dado nas CGs de ambiente e demais planos de fundo são coisas simples, tanto que no quarto do Takumi por exemplo é possível ver alguns objetos distorcidos, deformados ou simplesmente "estranhos", mas nas CGs de personagens e de certos eventos, a riqueza de detalhes é impressionante, bem como fiél nas proporções básicas dos corpos das personagens e de outros objetos pertencentes ao cenário.

A trilha sonora é uma das mais envolventes possíveis. Mesmo tendo uma ou outra música mais calma e outras para momentos divertidos e surreais (no bom sentido), o grande foco são nas músicas de suspense. Não estamos falando de terror, que são aquelas músicas que dão um pico grande em certos pontos para fazer você se assustar mais da música do que da cena, mas sim de músicas aparentemente calmas que logo ficam arrepiantes, ou de músicas cheio de batidas pesadas para compartilhar o sentimento de desespero do personagem principal. Não tem como definí-las com palavras, mas já digo que é uma trilha sonora empolgante, muito bem feita e que não enjoa mesmo se você ficar meia hora numa cena ouvindo-a.

Quanto às animações, temos os portraits das personagens que movem seus lábios enquanto falam (apenas de não possuir nenhum lip-sync) bem fluente, mas o que surpreende mesmo são nos filtros de imagem usado ao enfrentar alguma desilusão ou em efeitos especiais de alguns eventos, que inclusive chegam a ser um 3D muito bem feito.

Opinião
Muitas CGs sangrentas desse tipo lhe esperam. Isso dá medo, ainda mais nos diálogos dessas cenas.
O que o jogo tem de mais? O jogo simplesmente pega um personagem que ninguém botaria fé e o faz ser o centro de tudo que acontece no anime. Mortes por todo lado? Culpa do Takumi! Terremoto de 7.1 na escala Richter? Culpa dele! Sua irmã morreu? Culpa dele! Escreveu um monte de bobagem quando era criança e alguém pegou aquilo para um plano de domínio mundial no maior estilo 20th Century Boys? Culpa sua, Takumi!

Exagero ou não, muitas coisas revolvem em torno do Takumi que ele mal sabe, e ainda assim, nos momentos em que a narração passa para um outro personagem ou para uma narração em terceira pessoa, o jogo faz de tudo para que você se convencer que é uma possibilidade válida. Isso, ou você vai torrar vários dos seus miolos para tentar descobrir o que está acontecendo no jogo. Quem é o Shogun? Por que a Sakihata Rimi mataria um cidadão qualquer? Qual o objetivo do New-Gen? Quem são os Gigalomaniax? Di-Sword? Por que a Kozue só fala através de telepatia? Quem são os Cavaleiros Negros que a Ayase tanto fala em suas músicas? Quem é essa N.O.Z.O.M.I. que aparece de vez em quando falando um monte de bobagens sobre anti-partículas e pontos-cegos? As dúvidas são quase infinitas, e quando você acha que obteve a resposta definitiva para algumas de suas perguntas, o jogo introduz um fato novo que potencialmente quebra com todas as suas teorias de antes e o deixa ainda mais confuso, deixando as respostas definitivas apenas nos dois últimos capítulos do jogo.

O jogo, tirando os seus primeiros 10 minutos de introdução, é bem lento e repetitivo, onde o Takumi passa vários e vários minutos em seu quarto falando sobre praticamente nada, ou mesmo quando algo de bom acontece, ele falha em pensar direito como alguém normal faria, mas por bem ou por mal, o jogo se aproveita disso para deixar o jogador formular as suas próprias teorias e cronologias. Por mais que o diálogo esteja chato em alguma parte, pular algumas linhas de texto pode ser o fator decisivo entre entender o que está acontecendo ou ficar ainda mais perdido na história, ainda que seja um saco ter a impressão que a última hora de linhas que você leu serviram pra quase nada no desenvolvimento da história.

O jogo ainda possui alguns defeitos sim, como a sua linearidade para um jogo tão longo (poxa, olha Fate/Stay e Cross Channel, que tem várias rotas que não se contradizem e até aprofundam mais na história em meios que não seriam viáveis normalmente) e seus "finais", que apesar de rolar uma batalha parruda muito bizarra e arrepiante, tem finais um tanto decepcionantes, mesmo o "true end" do jogo. O jogo também falha em fechar alguns pequenos detalhes para os mais minusciosos, como quem eram a Meiwa Party e o Comitê dos 300 (isso sem contar no "poderzinho" da última batalha que pareceu uma tentativa forçada em apelar pra um chefão igualmente apelão), mas ainda assim, os pontos principais da história se conectam direitinho, dando uma satisfação grande ao completar o jogo.

Veredito Final
A batalha final é do capeta, e é ela que vai decidir qual final você terá
 Pontos Fortes 
      *Grande número de CGs
      *Trilha sonora envolvente
      *Personagens que afetam diretamente a história de algum modo.
      *Complexidade na história
      *Ótimo teor de suspense com cenas violentas
      *Viciante e que incentiva a pensar
      *Possui algumas referências/cenas/desilusões cômicas para descontrair

 - Pontos Fracos
      *Pouca consequência nas escolhas
      *Muito linear
      *Finais um tanto decepcionantes
      *Alguns eventos e termos não são bem explicados (mesmo tendo glossário e tudo)
      *Demora um pouco para chegar nos capítulos mais interessantes

Nota: 8,0/10

Opinião final: Primeiramente, quero mandar pro Lucifer todos aqueles que xingam o anime sem terem jogado o jogo por completo, pois por mais que alguns eventos do anime sejam diferentes que os do jogo (e lógico que seriam, pra compilar 25 horas de jogo em 12 episódios é foda...), o anime é fiél ao jogo, tanto na personalidade do personagem principal quanto na das heroínas e na disposição de informações ao longo da série.

*aham* voltando ao jogo... é um jogo muito bom que inclusive me fez lembrar de (acredite) Accel World. Muita gente não gostou do começo por parecer que o anime "não iria pra frente", mas que depois de alguns episódios, se torna uma série extremamente estável e empolgante. Por mais que tenha os seus defeitos, a história fará com que você vicie na série, e por mais que a sua qualidade não seja igual a de Steins;Gate, ainda assim é uma visual novel memorável, digna de ter o nome da Nitroplus nela. Recomendo a todos que gostem de uma boa e longa história onde o improvável fica mais abstrato do que você imagina.

Vale a pena comprar esse jogo?
Se tivesse em inglês, recomendaria sem problemas. Por mais que seja um jogo com o começo lento, é um jogo muito bom... vamos ter que esperar para a Jast USA lançar uma tradução oficial dela primeiro, né... se você assistiu só o anime da série, ainda assim vale a pena jogar o jogo devido aos eventos extras e devido a algumas cenas que foram censuradas (ou cortadas) no anime.

Escrito na foto: O Primeiro Trio Gigalomaniax! Ah, Orihara Kozue e Aoi Sena, as duas personagens mais fodas da série!
E com isso terminamos mais uma análise de visual novel. Espero que tenham gostado, e até a próxima!
Out.

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