sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Análise de Anime [9] - Kara no Kyoukai [CORRENTE DE REVIEWS 2013]


Não, o Out não morreu, e sim, pode parecer inesperado, mas a Zero Force também está participando da Corrente de Reviews 2013, organizado pela Anikenkai, parte do portal Genkidama. Se você está acompanhando a corrente (e se todo mundo tá postando direitinho nas datas certas), o blog que me sorteou foi... alguém que eu não sei ainda, mas o anime que me sortearam foi... pois é, depois de tanto pau que eu metia na Type-Moon por causa do anime de Fate/Stay Night, mas que eu acabei mudando de visão após ver Fate/Zero e me adentrar mais no "Nasuverso", tá aí mais uma obra feita nas mesmas bases e muito bem aclamada por otakus espalhados pelos sete mares: Kara no Kyoukai.

A série foi criada pela mesma duplinha de sempre da Type-Moon: roteiro por Kinoko Nasu e com ilustrações de Takashi Takeuchi (tem até tags pra eles pois não é a primeira vez que falo deles, tá!). Muitos conhecem mais eles pelas visual novels de Tsukihime e Fate/Stay Night, mas a verdade é que, no começo de sua carreira, Nasu escreveu uma certa Web Novel (tipo uma light novel, mas que você lê, legalmente, pela internet) que demorou um bom bocado para ser publicada em formato físico (e pra falar a verdade, foi o próprio Nasu que desembolsou para que isso acontecesse). Anos se passaram, e mais ou menos na época em que Fate/Stay tava bombando nas lojas japonesas, Nasu convenientemente relançou sua obra, revisada e modificada de acordo com o seu intuito, e foi um estouro de vendas. O nome dessa obra? Kara no Kyoukai.

Uma obra meticulosamente feita e brilhantemente orquestrada despertou o interesse de muitos estúdios para transformá-la em anime, mas por ser uma obra de difícil entendimento para o público "normal", a Type-Moon recusou muitos convites... até que a Ufotable (*aquele* estúdio paia que fez Fate/Zero) teve a ideia de dividir os diversos capítulos da obra em filmes, que passariam nas telonas e que requerem maior atenção do espectador frente a um anime que passa na sua TV ou no computador. A Type-Moon aceitou a proposta, e hoje é visto como um dos melhores exemplos de animação até hoje, frente até mesmo à Production I.G. (Shingeki no Kyojin, Robotics;Notes) e da Kyoto Animation (Clannad, Angel Beats, K-ON, Free!).

Chega de enrolação? Pois bem, vamos à análise!
História
Ah, borrou toda a minha maquiagem...
<--- música para ouvir enquanto lê a análise ^^

Kokutou Mikiya é aquele seu protagonista clichê de animes japoneses: o cara normal, sem nenhum dote especial, colegial e que usa óculos (tá, não é todo protagonista que têm óculos). Após passar pela cerimônia de ingresso para um novo ano do ensino médio, Mikiya vai, aos poucos, se envolvendo com Ryougi Shiki, uma menina meio calada (apesar de passar longe de ser uma kuudere) e que curte andar por aí usando seu kimono.

Durante as primeiras conversas que os dois personagens têm, vários assassinatos ocorrem na cidade onde eles vivem, mas até aí, nada de anormal acontece na vida dos dois... isso é, até Mikiya descobrir que Shiki possui dupla personalidade, e após muito investigá-la, descobre que ela era a responsável pelos assassinatos bizarros. Mikiya tenta convencê-la de parar de fazer essas coisas, mas o aparecimento de um mago, Araya Souren, acaba por impedir que Shiki matasse Mikiya por pouco, mas não nas melhores das intenções.

Uma série de eventos acontece a partir daí, e Shiki se encontra com Aozaki Touko, uma pessoa que a tenta auxiliar a superar seus medos e traumas, em troca de que ela trabalhe para Touko, juntamente com Mikiya, em uma espécie de agência que cuida de casos paranormais relacionados a magos e à própria magia deles. A partir de então, vários mistérios que vão ocorrendo na cidade acabam, de uma forma ou de outra, envolvendo os personagens da história mais uma vez, e aos poucos vai revelando e desenvolvendo a história entre os dois, diante de tanto mistério, lógicas e sede por sangue que as magias liberam nas mãos das pessoas erradas, ou mesmo vinda das próprias mãos das pessoas confusas e animalescas que aparecem.

Kara no Kyoukai é dividido em 7 filmes (o oitavo filme que foi anunciado, Mirai Fuukei, é um spin-off after-story, dando continuidade ao final do último filme), sendo que a maioria tem até pouco mais de uma hora de duração cada, com exceção do quinto e sétimo filme, com durações próximas de 2 horas. Cada filme é uma história fechada, mas como a ordem cronológica da série (2>4>3>1>5>6>7) não é a mesma que a sequência com que os filmes foram lançados, alguns fatos, pessoas e "poderzinhos que aparecem sem serem explicados" só fazem sentido posteriormente, e uns até só aparecem depois que os créditos rolam na tela... além de, claro, desenvolverem algo ainda maior.

Animação e Trilha Sonora
Kara no Kyoukai não é o seu anime de todo dia. Ele aborda temas bem polêmicos e com quase nenhuma censura. Sexo, estupro, drogas, homicídio, suicídio, decapitação, e até mesmo halucinação. Escolha o prato que mais gostar.
A animação é impecável. Assim como em Fate/Zero, Kara no Kyoukai não tem vergonha em mostrar belos tons vívidos e escuros na maioria de seus filmes. Efeitos de luzes não são tão evidentes no dia-a-dia dos personagens, mas nas batalhas e partes mais tensas da história, quase toda forma de efeito artístico visual está presente, combinando harmosiosamente com os fluidos movimentos dos personagens e suas animações realísticas e rápidas.

Muitas vezes, você pode até pausar o anime em um momento qualquer e você quase nunca verá uma modelagem mal-feita de algum personagem ou ver alguma desproporção nas medidas físicas dele. E não pense que Kara no Kyoukai só fica na parte da animação "bonitinha" que só se condiz à realidade, mas, por envolver magia no seu universo, até mesmo os efeitos especiais de coisas sobrenaturais são bonitos de se ver, sem deixar de dar aquela expressão de "over the top" que os animes japoneses adoram fazer.

A dublagem do anime é muito bem feita, assim como é na maioria dos animes de grandes estúdios. Sobre a trilha sonora, muita gente falava que a de Kara no Kyoukai é uma das melhores e mais inesquecíveis que existem atualmente. De fato, as trilhas cantadas são extremamente bonitas, graças ao grupo Kalafina, mas a trilha sonora mesmo é o que se espera de qualquer anime que tenha esse porte e que faça parte de um estúdio tão grande quanto a Ufotable. Não digo isso por desmerecer... mas é que é tanta trilha sonora boa que existe por aí, que simplesmente falar que a trilha sonora é boa não é justificativa suficiente para mim.

Opinião, Pontos Fortes e Fracos
Se você é daqueles que gostam de gráficos bonitos e animação fluente... tenho boas notícias pra você...
O que é arte? O que define ser uma obra de arte? O que define "música boa"? O que é ser normal? O que é aceitável de se fazer numa situação delicada? Kara no Kyoukai pode não responder todas essas (e outras) perguntas, mas ela vai fazer você pensar (e muito) sobre isso. Assim como um livro, nem sempre as coisas mais claras e indiscretas são as coisas mais bonitas e marcantes em uma história. Este anime, caso você o veja na ordem em que ele foi lançado, ele te dará pistas sutis sobre tudo o que acontece no universo da série, por mais que os tempos sejam disconexos ou que não sigam uma ordem cronológica certinha. Caso você já assistiu Suzumiya Haruhi (eca!) ou filmes mais nerd como Star Wars e Senhor dos Anéis, você sabe que nem sempre a ordem de lançamento original dos livros/filmes é a ordem cronológica dos eventos, mas ainda assim, você não é deixado para trás por causa dessas pistas.

O mundo real é repleto de perigos, e você pode escolher entre simplesmente prosseguir sua vida sem dar muita atenção a isso, ou você pode arregaçar as mangas e tentar ajudar a melhorar este cenário. A dupla Shiki e Mikiya mexe justamente nesse ponto, e ao contrário do vilão clássico de animes shounen que quer simplesmente "dominar o mundo" ou ter outro objetivo macabro em mente, o objetivo dos "vilões" (ou vítimas) de Kara no Shoujo são legítimos em suas próprias concepções, mesmo que por uma desilusão ou não. Cabe da própria pessoa de saber se correr atrás desse mesmo objetivo vale tanto a pena assim ou não. E ainda assim, para quem ver as coisas do outro lado do espelho, pode haver um conflito de conceitos nisso daí.

Há falhas? Sim, a série não é perfeita, bem como Nasu já tinha afirmado, pela sua inexperiência na época em que ele a escreveu. Os filmes mais curtos deixam vários aspectos ao vento, sem se preocupar com explicitar um motivo concreto para a ação dos personagens, bem como no jeito em que eles raciocinam tão complexamente em alguns argumentos contra seus oponentes. Incluindo isso com o fato de muitas coisas que acabam passando batido não terem sido explicadas, como o porquê da irmã de Mikiya também trabalhar com a Touko, ou do porquê Mikiya têm tanta resistência física (e se foi por causa de magia, por que ele não usa outras?), ou da história da própria Touko em decidir abrir sua agência, já que ela tem potencial para muito mais coisa?

Pra compensar, a verdadeira beleza de Kara no Kyoukai não reside apenas nos seus belíssimos gráficos ou na brilhante trilha sonora, mas, sim, nos personagens e suas lógicas. Tem lá umas palhaçadas que parece merchandising de novela, com a marca alimentícia japonesa Nissin, da bebida esportiva Pocari e até mesmo da marca de sorvetes americana que tem nome dinamarquês, a Häagen-Dazs, espalhados em diversas cenas de vários filmes da série, e momentos cômicos no anime são raros e o deixa com um aspecto mais maduro, quase pessimista, mas o espectador facilmente passa por esses aspectos se ele focar genuinamente na história e em seus personagens.

A atitude de Mikiya pode parecer fraca no começo, e parecer mais um inútil que um personagem bom para a série, se comparado com as demais heroínas da animação, mas a capacidade de raciocínio e sua perspicácia em ver através das palavras das pessoas, jogando na cara a verdade por trás de suas ações, é algo que poucos animes fazem, e mesmo assim, as demais personagens são todas bem complexas e imprevisíveis. Touko pode parecer foda e sempre com um plano reserva na manga, mas ela não têm as respostas para tudo, bem como Shiki, que não perde a compostura frequentemente, também tem seus momentos emotivos e confusos.

E o mais importante de tudo: há evolução dos personagens. Pode não ser aquela coisa revolucionária para a série, mas caso você já tenha lido algum review nosso antes, isso é algo que eu adoro e prezo muito. Shiki pode ter aquela personalidade dela de homem (sim, uma das personalidades dela, SHIKI, é homem, no seu jeitão e comportamento), mas ela mesma se desenvolve no decorrer do anime, Azaka, que odeia Shiki no começo, começa a se dar bem com ela, e Touko, por mais "God Mode" que ela pareça ser, sempre joga paradigmas e paradoxos interessantes para o espectador, algo que pode (e deveria) mudar o jeito com que você percebe o mundo.
Conclusão e Nota Final
Aí, meu coração...!

 Animes podem ser bons, mas tem aqueles que fazem você pensar (pra caramba). Por mais que tenha o "toque mágico" da magia e do sobrenatural, com vários termos próprios e lógicas, ainda fica aquela coisa no seu peito, como se lhe deixasse com dúvida de tudo que já havia feito e se foi a decisão certa a ser tomada. Cabuloso? Talvez, mas é bem assim que alguém se sente após ver Kara no Kyoukai até o fim.

De fato, demora um pouco para os filmes fazerem sentido e tocar o coração até esse ponto, mas a partir do quinto filme (que pra mim é o melhor de todos, com a batalha mais épica e desfecho mais mirabolante possível, fora a narrativa muito bem apropriada para o tema tratado), o bagulho começa a ficar sério. Por mais que tenha as falhas mencionadas, se você chegou nesse filme e ainda está curioso para com o universo da série, a série lhe recompensará, e muito, prendendo a sua atenção até os últimos instantes depois dos créditos.

 Pontos Fortes 
      *História bem planejada e que evolui
      *Os personagens e suas complexidades
      *A animação e a trilha sonora
      *Batalhas bem frenéticas
      *É algo cult para sair dos animes shounen e experimentar algo novo e sobrenatural
      *Mexe bastante com temas polêmicos e valores da sociedade (e por isso, pouca censura o/)

 - Pontos Fracos
      *Poucos momentos engraçados
      *Algumas explicações podem ser bem sutis, ou mesmo inexistentes
      *Merchandising pode ser um pouco inconveniente
      *Ordem dos filmes é diferente da ordem cronológica, o que pode confundir quem for ver
    *Muita enrolação pra pouca ação: várias cenas são bem comuns e ordinárias, mesmo em frente à qualidade das batalhas e nos diálogos mais tensos

Nota Final: 8,0/10

Não é a Tohsaka Rin, mas a Azaka é bonitinha, vai!
É hater de Kinoko Nasu e da Type-Moon pelos animes mal feitos? Não se preocupe, pois esse aqui é de marca (só não é Friboi). Tem paciência para ver uma série única e com um desenvolvimento inesquecível? Bom, esse anime vai saciá-lo.

Agora, se você só gosta de animes de ação, lutas e frenesi... tem um seriado que se chama 24 Horas... vê ele, é bacana... E MORRA!

Ah, você se pergunta se eu agora virei fã do Nasu? Bem, confesso que tenho que dar os prestígios ao criador por causa dessa série, mas tudo nas devidas proporções, já que tem suas falhas e não é nada perfeito como alguns fãs cegos clamam por aí. Eu queria mesmo é ler a light novel ou o mangá da série para ver se o compasso é diferente ou se tem muita alteração, mas a minha experiência com os filmes foi prazeirosa... mas ainda assim, não o perdoo por ter deixado aquele anime feio de Fate/Stay Night ter ido pro ar, e nada vai tirar a minha (horrível) primeira experiência com o anime... mas quem sabe, quando sair uma animação de Mahoutsukai no Yoru ou de Decoration Disorder Disconnection, eu possa realmente virar (e com um bom motivo) um fã de suas obras, né?

Parece o Emiya, né?... mas não, apesar do universo também incluir magos e magia, é apenas mais um dos personagens passageiros da série.

Bom, a análise termina aqui. Espero que tenham gostado, e fiquem ligados para a continuação da corrente de Reviews para o nosso parceiro, a Otaku&Gamer!, com uma indicação minha. Qual você acha que é? Aproveitando a tradução americana por fãs da visual novel: Mashiro-iro Symphony! Será que eles vão curtir a história de amor puxado pro harém cabuloso com comédia? Ou será que nem tanto?

Descubra, a seguir!
Out.

Um comentário:

  1. Hi Matheus kun!


    Após saber depois desse Imbróglio,todo,que teu post é o posterior ao do Hajimari no Sora
    [http://hajimarinosora.wordpress.com/2013/09/23/corrente-de-reviews-o-dever-de-um-messias-em-higashi-no-eden/],e ainda meio temeroso em comentar à toa,devido ao "o Out não morreu",todavia tamos aí para uma opinião geral e/ou resumida(?),e descendente do que tua postagem vem a englobar.

    Ele devia estar sabendo o que fazia quando investia o próprio dinheiro num projeto,pois se fosse noutras épocas,a família que ele talvez tenha,internaria-o por ele "estar delapidando o patrimônio" com esse lance meio arriscado.Um risco semelhante ao que o Ufotable deve passar toda vez que deixa o público boquiaberto: "Com grandes poderes vem grandes responsabilidades."

    Eu não sei sabe o que andam ensinando nas escolas japonesas -além de Kanji-,no entanto é um bom disfarce nos animes,onde a Type Moon tem um ar sombrio que acho mais elaborado,segundo as obras já ditas e com linearidade mais convencional.

    E olha.Mesmo no nem tal famoso por isso,Tsukihime,via esses instantes de atenção a focar,e ainda mais com o rótulo Ufotable,deve estar + +.E também no sentido musical.

    Quanto ao "ser arte",por ventura a justificativa que o dá nota seja a proposta ser cumprida,mas que é altamente influenciada pelos "formadores de opinião".Também disse que Nasu fez "revisões" que não tiram as instabilidades de lógica,anyway,coming of age etc...

    Sobre os "merchans",contanto que não seja como em filmes brasileiros da Globo Filmes... XP

    Em conclusão,gostei do jeito que foi resumindo os pontos fortes e fracos até chegar no tópico em si e da estratégica inserções de OSTs pra auxiliar no ritmo do longo trajeto de Kara no Kyoukai.E as piadas e ressalvas caíram bem também.
    Não concordo muito com as opiniões em geral sobre Fate Stay Night(falo ainda da blogosfera) e tenha uma ressalva quanto às trilhas sonoras,que em si podem conter ou fazer um paralelo com o anime,mas divagar nessa questão é mais complexo que tal afirmação minha.
    *Nota: Não é que tenho todos esses 7 filmes,uma hora ou outra ou devo o ver,quem sabe(?);o post dum site que lembra a estética Type Moon anima a isso. =-p


    E até mais ver!

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